(Redacção - esquecida - para o dia da àrvore -21.03)
Era uma vez...
Nove vagens violeta-acastanhadas, todas parecidas, mas diferentes.
Independentes e livres.
Entregues a si próprias, à sombra das parapinuladas folhas dos pais: a alfarrobeira.
De saudável árvore, naquela quase abandonada granja, bons frutos nasceram.
Passaram-se tempos...
De todas, três delas, tornaram-se altivas e dissimuladas, por se julgarem as mais catitas.
Dessas, duas eram machas, e outra era morcona (por, estranhamente, dizer-se nortenha).
Eram as três, as "raínhetas", da aristocracia "leguminosae", já se vê!
Singraram, mais que as outras, na vida.
Eram as mais ricas, em folhagem, com seus dez folíolos ovalados.
Porque receberam benesses extra, por via escusa, uma, por caminho ordinário , as outras duas.
Cresceram e o seu norte perdeu-se, quando deixaram os pais, dizia a vizinhança.
Uniram-se as três, e olhavam as outras seis com vergonha, porque não usavam pele de marca, no vestir.
Embora soubessem, essas, que todas as seis, eram humildes e trabalhadoras.
Sem tantos folíolos ovalados na folhagem protectora, mas talvez por isso, bem amadurecidas e sérias.
Eram as alfarrobas "ranheta", da plebe, contestatárias coerentes, íntegras e saudáveis.
Cuidadas por elas próprias, contra as moléstias da fruta.
Deixaram, as "raínhetas" e as "ranhetas", de ver-se, durante tempos.
Um dia, repentinamente, no inverno, morreu pai e mãe: a velha alfarrobeira.
Foram as nove ao funeral (ao colo de frias brisas) e ali quizeram dividir os bens abandonados: pequeninas sementes, caidas de algumas vagens apodrecidas pelas chuvas.
Porque a maioria morava dispersa, agora, em cantos diversos do armazém da granja (quase abandonada pelos humanos herdeiros).
Fizeram-se os nove "montes", mas desiguais.
As primeiras três, "bachareletadas", ditaram as contas e os "montes".
Não houve acordo e a defunta alfarrobeira, desenraizada, ficaria ali, na granja, a apodrecer, sem enterro.
Por isso, as seis "ranhetas" reuniram, pensaram e lavraram em acta:
"Todos os bens, herança de nossos pais, deverão ser entregues às nossas outras três irmãs, mas com uma condição:
que cada pequena semente, desses bens, germine livre e contente e não frequente escolas de "raínhetas".
Soube-se, no fim do verão seguinte que, infelizmente, dor desconhecida (remorsos?) estava a consumir o grupo das três.
Foi por isso, sabe-se hoje, que tiveram tempo para se arrepender da injustiça que cometeram com as irmãs.
Pensando, e bem, que bastava uma "raínheta" doente - que faria três! - para esterilizar rapidamente, por falta de maturidade, todos os bens recebidos. E que, caprichosamente, afinal, mantinham, presos, na sombra fria do armazem.
Segredaram, então, às três "ranhetas", em que lugar se encontravam os bens.
E a seguir lavraram em acta que lhes entregavam, arrependidas, para educarem e tratarem, os últimos frutos do labor de seus pais.
E partiram, depois, em mansos remoínhos de vento: as três, para lugar incerto, e as "ranheta", em busca da herança.
Passaram-se anos.
Até que um dia, os novos donos da granja encontraram, maravilhados, numa zona ensolarada da sua propriedade, vinte e sete jovens pequenas árvores, envolvendo, em circulo perfeito, ternamente, nove velhas alfarrobeiras.