«A informação é uma guerra, uma guerra entre modelos sociais. Entre os defensores de um mundo desigual, injusto, governado por depravados e autênticos terroristas que impõem a sangue e fogo um modelo económico que condena à morte milhares de pessoas em todo o mundo, e aqueles que decidem estar ao serviço dos grupos, movimentos, intelectuais e outros lutadores, que todos os dias arriscam a vida a defender outro modelo de mundo possível.»
Pascual Serrano - José Daniel Fierro

REFORMAS E BAIXAS MÉDICAS EM PORTUGAL - escândalos!

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COMER E CALAR! - até quando?


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terça-feira, janeiro 31, 2006

COLISÃO


Um grande filme... !

Colisão aborda a descoberta de quem somos através da colisão com aquilo que os outros pensam que são.

Mas também nos mostra a forma como a vida nos ensina........

domingo, janeiro 29, 2006

CURIOSIDADES V










REDACÇÃO - 2

Redacção de um aluno que fez exâme da 4ª classe (actual 4º ano de escolaridade) no ano de 1962. in "Diário de Lisboa de 1962:

A REVOLUÇÃO DE 1640

A Revolução de 1640 foi descoberta no reinado de Filipe III.
A Revolução de 1640 durou muitos anos porque estiveram debaixo dos Filipes.
Filipe II descobriu a guerra da Independência. Eu gosto muito da Revolução de 1640.
A Revolução de 1640 deu-se para descobrir o Miguel de Vasconcelos que estava num armário de papeis.

sábado, janeiro 21, 2006

OS VELHOS e os outros







A maior paranóia de um ancião, que se preze, reside nas doenças que as imunidades debilitadas não podem impedir.
O mêdo de morrer de repente é avassalador.

Nem a lei de Lavoisier (Na Natureza nada se perde (morre), tudo se transforma), nem tão pouco este conceito de que "Um homem depois de morto, é eterno, visto que por incapacidade indutiva, nunca reconhecerá que morreu", me tem salvado desta triste e senil covardia!

Por isso fui hoje ao médico. E de lá trouxe amável e surpreendente notícia: "O senhor, para os seus oitenta anos, está muito bem de saúde!"

Apesar da intenção caridosa ser evidente, sorri-lhe abertamente, para que julgasse ter-me enganado. Ao pretender iludir-me, o doutor apenas me confirmou, de modo simplista, a teoria da relatividade!

O que ele teve, foi pudor, em dizer-me com toda a clareza: "Apesar do seu tempo de validade ter expirado, você é dos resistentes. Quem não deverá gostar nada de você andar por cá são os tipos da segurança social...cá por nós, tudo bem!"

Paranóias são paranóias e contra elas só uma boa cura mental as faz abalar.

Como "para grandes males, grandes remédios", ataquei o problema de frente.
Ocorreu-me pôr em confronto a qualidade de vida do nosso povo com a de outros portugueses, isto é, ver se todos os habitantes do país vivem ou não com dignidade. Velhos incluídos.

Posto isso, qual refrigério de incontrolável egoísmo, amainei meus temores de velho perante a morte, por injustificados, em face de quadro tão dramático:
Recordei notícia sobre a existência de dois milhões de pobres e do milhão de miseráveis que vegetam ao nosso lado. Que diariamente olhamos. Sem os vermos. E bastou!

Reconheço saber de "velhos" que nunca tiveram mêdo da morte, não por usarem expedientes primários como o meu para esquecerem a sua, mas porque a procuram: São os jovens que morrem todos os dias nos atalhos da vida e em outros estranhos e evitáveis caminhos. A estes voltarei um dia se para tanto me ajudar a saúde...

Tal como por estar vivo, sei que não morri, também sei que dentro de 80 anos já ninguém me verá. Não sei para onde vou, mas também não interessa!!
E ao meu médico também não o verão. Mas se o vissem, duplo contentamento lhe caberia. É que os anciãos, que contribuem mais que os outros para o seu desafogo financeiro, passarão a representar a maioria da população em países desenvolvidos.

Há quem pense que eles são um estorvo e por essa razão maior estorvo virão a ser.
Mas não irá ser assim. Muitos dos velhos, do fim deste século, vão conquistar de novo a cidadania. Porque irão receber, de quem os precedeu, a sanguina bandeira que empunharão a caminho duma sociedade mais honrada.

Quero dizer: Os velhos que antes da revolução industrial eram respeitados, voltarão a sê-lo, por razões diversas, no dealbar do próximo século. Trezentos e muitos anos depois.

Afinal, tempo pouco, para este nosso planeta Terra que, qual nave, na sua rota vertiginosa nos transporta a todos, sem excepção, volteando o Sol, através da galáxia e do universo!...

Assim, decididamente, nenhum velho que se preze tem o direito de reclamar - nesta espantosa viagem - por não ter "tempo" para saber que morreu.
Aqui, na Terra, nesta Nave, somos apenas milhares de milhões de eternidades adiadas... Sempre.
Uns vão descendo, em seus apeadeiros, primeiro que outros.
E nestes, outros sobem, para continuar esta viagem!...

quarta-feira, janeiro 18, 2006

GRITO NEGRO (mas também de outras cores)

Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
E fazes-me tua mina
Patrão!

Eu sou carvão!
E tu acendes-me, Patrão
Para te servir eternamente como força motriz
Mas eternamente não
Patrão !

Eu sou carvão!
E tenho que arder, sim
E queimar tudo com a força da minha combustão.

Eu sou carvão!
Tenho que arder na exploração
Arder até ás cinzas da maldição
Arder vivo como alcatrão, meu Irmão
Até não ser mais tua mina
Patrão!

Eu sou carvão!
Tenho que arder
E queimar tudo com o fogo da minha combustão.

Sim!
Eu serei o teu carvão
Patrão!

José Craveirinha/1964

Nota: para que não deixe de constar... (Marinha Grande,18 Janeiro 2006)

domingo, janeiro 15, 2006

Charlie e a fábrica de Chocolate


Acredito que este filme só é infantil para quem não quer ver a profunda e mordaz crítica:
à educação paternal vazia; ao consumismo rídiculo; à televisão sem-conteúdo; ao emprego precário; à publicidade enganadora; à cobiça; ao estereótipo de beleza e sucesso; ao egoísmo; à presunção; ao jogo,etc....

É um alerta. É um alerta para quem educa. Para os pais, mas também para os políticos e empresários que nos controlam.

Será que aos poucos estamos a transformar a Família num verdadeiro Agente Económico. Que não pensa, que não tem vida e que é apenas fonte de : força de trabalho, audiência para televisão, receita de vendas e impostos, problemas laborais, crises sociais, despesa pública, etc. ?

Será que não é dela que tudo nasce e que a ela tudo se deve?

Será que o capitalismo selvagem teve amor à nascença ?

Para mim a verdadeira mensagem do filme está na última cena.

Pronto.Tenho dito. : )

domingo, janeiro 08, 2006

CURIOSIDADES IV







REDACÇÃO - 1
(Redacção de um aluno que fez exâme da antiga 4ª.Classe (actual 4º. ano escolaridade) numa das escolas do concelho de Pombal. In "Diário de Lisboa" 1962)

O LEITE

O leite é para nós bebermos, o leite faz queijo e manteiga. O leite é branco e eu gosto muito de leite. O leite vem dos animais que dão o leite são: a vaca, a cabra, a ovelha, os burros e o Senhor Prior de Mata Mourisca também dá leite, mas é em pó.

segunda-feira, janeiro 02, 2006

GENEALOGIA - uma estória






Prefácio/aviso:
Nesta passagem de Ano-Novo vou deixar acontecer, livremente, uma estória e suas personagens, sem saber ainda se da primeira vou dar conta e nas segundas hospedarei "vida"!
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Há uns anos a esta parte, tenho noites em que o sono me chega cêdo, como se quizesse interromper-me um agradável serão. A de hoje é uma dessas, em que esse malvado está a ancorar despudoradamente.

Eu bem lhe quero resistir, enquanto olho o filme que passa na tv...

Na tentativa de o enxotar, recorro, expedito, á leitura de pequenas notícias na revista que tenho á mão, olhando, de vez em quando e de soslaio, para o televisor.

Depois, traindo inconscientemente a revista e a tv, ensaio a lembrança dos serões maravilhosos passados á lareira de meus avós maternos, lá na aldeia, onde, os dotes de contadora de estórias da tia Jacinta, me deliciavam a mim e às outras crianças presentes.

A seguir, e em contraponto, puz em cena aquelas noites de insónia em que, já adulto, os tic-tacs, martirizando-me, caminhavam para a hora certa, lembrando-me o "ponto" da obrigação.
Paradoxalmente, não sei porquê (!), comecei a sentir nostalgia destas noites mal dormidas e dos atrazos ao trabalho...

"O sono, esse bem-mal-amado, está outra vez a tomar conta de mim e o filme vai ficar definitivamente com menos um espectador...
O melhor é recuperar a leitura para não deixar ainda mais só a minha companheira" - pensei eu para mim.

Recomeço então a leitura para tentar enganá-lo de novo. E logo me voltam á memória outras boas e desagradáveis lembranças dos tempos de criança, de adolescente e de maioridade, que havia esquecido.

A última coisa de que me recordo, antes de ter adormecido, e não sei porquê, foi das cartas que enderecei a dois organismos oficiais.

Pois foi. Há uns anos, não muitos, pedi Certidões de Nascimento (dos meus oito bisavós) ás Conservatórias de Registo Civil e, depois, aos Arquivos Distritais, na esperança de fazer a árvore genealógica da família Lérias.

As respostas, surpreendentemente para mim, foram negativas, embora simpática e burocraticamente justificadas.

Concluí: Não fôra eu de humilde condição, que de certeza outro galo cantaria, isto é, se corresse o tal sangue azul por estas veias, ou de burgês tivesse ascendência, as certidõezitas já cá cantariam hà muito tempo. Do desgraçado povaréu a quem tantos "nobres" recorrem para encher as tulhas, não há notícia. "Paciência!" - balbuciei já conformado... enquanto a revista se me desprendeu das mãos... e ouvia, lá ao longe, o som da televisão.

Mais além, puz-me a divagar sobre antepassados, que não conheci.

Assim, levitando, viagei da Idade Média de retorno ao século XXI partindo da premissa de que, cada ser humano teve, desde sempre, uma vida de pelo menos 60 anos.
E que cada um foi pai aos 21.
E avô aos 42 anos.

Observei que as pessoas nascidas em todo o mundo tiveram condições para receber e recordar os conhecimentos e vivências deixadas por um dos seus avós directos, desde 1370 - fins da Idade Média - até aos nossos dias (636 anos depois), para o que bastaram as memórias de apenas 14 pessoas (de cada ramo genealógico) para nos darem hoje notícia certa, embora acrescentada, das suas estórias, que não da história (que dessa só pode dar-nos conta a verdadeira ciência política).

Por isso hoje, 31 de Dezembro de 2005, me senti feliz à lareira, como já há muito me não sentia, lendo os nomes, obras, hábitos e costumes que colhi dos meus mais "recentes" antepassados.

E, vingado, adivinhei abertas as portas das "torres do tombo" a todos os mortais e esforçados humanos, por mais humildes que tivessem sido suas orígens e social condição - e não só aos que "por obras valerosas se vão da lei da morte libertando"...

...exaltado, continuo na minha errática e quixotesca viagem... deixando o passado.

Vejo-me agora sentado a uma mesa com a família, em dia de Festa, com a lareira ao fundo.
E os meus três netos, ainda crianças, a pedirem-me para lhes repetir aqueles contos fantásticos que herdei da tia Jacinta. Depois, habituados às minhas várias dissertações senis sobre pseudo - intelectuais assuntos, não se esqueceram de me explorar a vaidade para que lhes falasse, outra vez, do meu tema preferido: as vidas dos nossos antepassados directos, dos quais, como peões, alguns morreram na batalha de Aljubarrota (desconhecidos e sem proveito nem glória).

Acabadas as estórias, interromperam-me para me dizer, em uníssono, entre gozões, enternecidos e condescendentes:

"Avô, acorda! - No dia de hoje vamos abraçar em ti todos os nossos catorze antepassados, através dos toques de pele que, de acordo com os tempos, foram dando uns aos outros, desde o tempo de D.João I !...".

E acordei mesmo. Sobressaltado, mas acordei.
Ao meu lado, no velho sofá, a minha mulher continuava a ver o filme na televisão...