«A informação é uma guerra, uma guerra entre modelos sociais. Entre os defensores de um mundo desigual, injusto, governado por depravados e autênticos terroristas que impõem a sangue e fogo um modelo económico que condena à morte milhares de pessoas em todo o mundo, e aqueles que decidem estar ao serviço dos grupos, movimentos, intelectuais e outros lutadores, que todos os dias arriscam a vida a defender outro modelo de mundo possível.»
Pascual Serrano - José Daniel Fierro

REFORMAS E BAIXAS MÉDICAS EM PORTUGAL - escândalos!

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COMER E CALAR! - até quando?


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segunda-feira, janeiro 02, 2006

GENEALOGIA - uma estória






Prefácio/aviso:
Nesta passagem de Ano-Novo vou deixar acontecer, livremente, uma estória e suas personagens, sem saber ainda se da primeira vou dar conta e nas segundas hospedarei "vida"!
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Há uns anos a esta parte, tenho noites em que o sono me chega cêdo, como se quizesse interromper-me um agradável serão. A de hoje é uma dessas, em que esse malvado está a ancorar despudoradamente.

Eu bem lhe quero resistir, enquanto olho o filme que passa na tv...

Na tentativa de o enxotar, recorro, expedito, á leitura de pequenas notícias na revista que tenho á mão, olhando, de vez em quando e de soslaio, para o televisor.

Depois, traindo inconscientemente a revista e a tv, ensaio a lembrança dos serões maravilhosos passados á lareira de meus avós maternos, lá na aldeia, onde, os dotes de contadora de estórias da tia Jacinta, me deliciavam a mim e às outras crianças presentes.

A seguir, e em contraponto, puz em cena aquelas noites de insónia em que, já adulto, os tic-tacs, martirizando-me, caminhavam para a hora certa, lembrando-me o "ponto" da obrigação.
Paradoxalmente, não sei porquê (!), comecei a sentir nostalgia destas noites mal dormidas e dos atrazos ao trabalho...

"O sono, esse bem-mal-amado, está outra vez a tomar conta de mim e o filme vai ficar definitivamente com menos um espectador...
O melhor é recuperar a leitura para não deixar ainda mais só a minha companheira" - pensei eu para mim.

Recomeço então a leitura para tentar enganá-lo de novo. E logo me voltam á memória outras boas e desagradáveis lembranças dos tempos de criança, de adolescente e de maioridade, que havia esquecido.

A última coisa de que me recordo, antes de ter adormecido, e não sei porquê, foi das cartas que enderecei a dois organismos oficiais.

Pois foi. Há uns anos, não muitos, pedi Certidões de Nascimento (dos meus oito bisavós) ás Conservatórias de Registo Civil e, depois, aos Arquivos Distritais, na esperança de fazer a árvore genealógica da família Lérias.

As respostas, surpreendentemente para mim, foram negativas, embora simpática e burocraticamente justificadas.

Concluí: Não fôra eu de humilde condição, que de certeza outro galo cantaria, isto é, se corresse o tal sangue azul por estas veias, ou de burgês tivesse ascendência, as certidõezitas já cá cantariam hà muito tempo. Do desgraçado povaréu a quem tantos "nobres" recorrem para encher as tulhas, não há notícia. "Paciência!" - balbuciei já conformado... enquanto a revista se me desprendeu das mãos... e ouvia, lá ao longe, o som da televisão.

Mais além, puz-me a divagar sobre antepassados, que não conheci.

Assim, levitando, viagei da Idade Média de retorno ao século XXI partindo da premissa de que, cada ser humano teve, desde sempre, uma vida de pelo menos 60 anos.
E que cada um foi pai aos 21.
E avô aos 42 anos.

Observei que as pessoas nascidas em todo o mundo tiveram condições para receber e recordar os conhecimentos e vivências deixadas por um dos seus avós directos, desde 1370 - fins da Idade Média - até aos nossos dias (636 anos depois), para o que bastaram as memórias de apenas 14 pessoas (de cada ramo genealógico) para nos darem hoje notícia certa, embora acrescentada, das suas estórias, que não da história (que dessa só pode dar-nos conta a verdadeira ciência política).

Por isso hoje, 31 de Dezembro de 2005, me senti feliz à lareira, como já há muito me não sentia, lendo os nomes, obras, hábitos e costumes que colhi dos meus mais "recentes" antepassados.

E, vingado, adivinhei abertas as portas das "torres do tombo" a todos os mortais e esforçados humanos, por mais humildes que tivessem sido suas orígens e social condição - e não só aos que "por obras valerosas se vão da lei da morte libertando"...

...exaltado, continuo na minha errática e quixotesca viagem... deixando o passado.

Vejo-me agora sentado a uma mesa com a família, em dia de Festa, com a lareira ao fundo.
E os meus três netos, ainda crianças, a pedirem-me para lhes repetir aqueles contos fantásticos que herdei da tia Jacinta. Depois, habituados às minhas várias dissertações senis sobre pseudo - intelectuais assuntos, não se esqueceram de me explorar a vaidade para que lhes falasse, outra vez, do meu tema preferido: as vidas dos nossos antepassados directos, dos quais, como peões, alguns morreram na batalha de Aljubarrota (desconhecidos e sem proveito nem glória).

Acabadas as estórias, interromperam-me para me dizer, em uníssono, entre gozões, enternecidos e condescendentes:

"Avô, acorda! - No dia de hoje vamos abraçar em ti todos os nossos catorze antepassados, através dos toques de pele que, de acordo com os tempos, foram dando uns aos outros, desde o tempo de D.João I !...".

E acordei mesmo. Sobressaltado, mas acordei.
Ao meu lado, no velho sofá, a minha mulher continuava a ver o filme na televisão...

3 Comments:

At segunda-feira, janeiro 30, 2006 10:26:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Num é pra me gabar mas até a minha creada qu'é analphabeta sabe cuntar hist´rias milhores

 
At terça-feira, maio 01, 2007 12:24:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

olá!
Sou uns dos poucos descendentes da família lérias no brasil, se quiser me escrever: jrmestreufu@bol.com.br

 
At quinta-feira, agosto 23, 2007 10:45:00 da manhã, Blogger Carlos Lérias said...

olá
sou também um dos poucos Lérias que ainda vão existindo no vagar do mundo.
Sou Português zona ribatejo e estou a tentar fazer uma árvore genealógica da minha família directa.
tenho 26 anos e consegui chegar aos meus tetra-avós por contacto verbal.
também sou um curioso e estou muito interessado em escavar fundo na minha memória
por favor contacte
carloslerias@gmail.com

 

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