os velhos
Diz-se que há-de vir
uma era justa e boa
em que o valor da pessoa
se mantém quando envelhece.
Está no trabalho que fez.
Para conseguir uma coisa como esta
dava o sangue que me resta.
E era como se tivesse
nascido mais uma vez.
Deram-nos este banco de avenida
onde a sombra nos dói e a tarde gela
e daqui vemos nós passar a vida
Sem que a vida nos sinta perto dela.
Assim nos atiraram para fora
das coisas que ajudámos a fazer.
Ai, como o sol aquece pouco agora.
Ai, muito custa à noite adormecer.
Fomos pedreiros, varredores, ardinas
fizemos casas, cultivámos terras,
criámos gado, entrámos pelas minas,
demos os filhos para as vossas guerras.
Demos as filhas para vos servir,
cortámos lenha para a vossa fogueira.
E o tempo a ir-se, e a gente a pressentir
que vos demos sem querer a vida inteira.
E ainda é sangue o que nas veias corre.
Ainda é raiva o que nos dobra a mão.
Ainda ecoa um sonho que não morre
no nosso velho e atento coração.
Poema "Os Velhos " de Hélia Correia
Aproveito para dizer que vou entrar de "férias" a conselho do oftalmologista. Obrigado pela visita e até qualquer dia. Assina: zé lérias
zé lérias said: Ophthalmologist advised me to quit internet during some months. Thank you for your visit. See you later.
Etiquetas: hélia correia
2 Comments:
os velhos que nos ensinam o que ainda não aprendemos...
os velhos que nunca serão idosos mas velhos...
como os trapos...
com saúde e um ar terno a cuidar dos nossos filhos,
abrazo serrano
Zé Lérias
Gostei.Que nunca nos calemos perante quem nos discrimina.
Um beijinho
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