Segue-se o trecho de um texto, intitulado: "Um representante da lei quebrando a lei", encontrado no blog,
dando conta da legítima preocupação de uma jovem senhora brasileira a residir nos USA, que pensa estar em perigo o direito à privacidade feminina:
"(...) Bem, daí que mais tarde (e isso tudo de manhã, pois agora são 2:04 da tarde), a polícia baixa aqui no hotel (eu estou no Ramada Inn e Diamonthead, eh onde fica o HQ - Quartel General do US Army Corps of Engeneers). Uma queixa de que o hotel estaria usando falsos espelhos, daqueles que a pessoa vê tudinho do outro lado e você não os vê, sabem do que estou falando?
Cara, isso é grave!
E eu nunca "checo" os espelhos pra ver se são de duas faces ou não!
Resultado, detectives, inquérito aberto, coleta de informações, alguém vai pra cadeia. Basta descobrirem o engraçadinho! (...)" etc, etc. e tal.
Terá fundamento a "denúncia" desta senhora?
Eu sinceramente não acredito, até provas em contrário.
Não acredito nesta história porque decerto a própria senhora, na sua relativa preocupação, não deixa de demonstrar que se trata de uma pequena anormalidade dentro de um quadro social e político ablosutamente normal. No país que a acolheu, quem não cumpre as leis pode estar a cavar a própria cova. Isto é, pode ir desde a perda de liberdade temporária até ao corredor da morte. Portanto não vejo ninguém de sã inteligência que por uma ninharia esteja a pôr em perigo a sua liberdade.
Estou a vê-la a dizer, em concordância comigo, e se a isso fosse instada (e não obstante o seu aviso), que vive num país onde dá gosto viver porque a liberdade e os direitos do homem e da mulher são rigorosamente respeitados; só é pobre na América quem não quer trabalhar; que só não tem segurança social quem não quer; que a liberdade de expressão existe mesmo, embora muito poucos a saibam utilizar - como aliás no resto do mundo; etc. etc....
Repito: não acredito nesta "denúncia" como não acreditei numa outra que me fez um amigo meu, àcerca de uma viagem a Moscovo, antes da "perestroika", e que passo a descrever a passos largos, dado também envolver espelhos falsos:
Contava ele que na capital da Rússia não havia avenida, rua, travessa ou bêco que não tivesse câmaras escondidas. Nos hoteis, para além das câmaras ocultas, a existência de falsos espelhos era "mato".
Extrapolando, dizia ter a certeza de que em toda a URSS se passava o mesmo.
Contava-me, empolgado, que as crianças de orfanatos (não podia ser outra coisa) passeavam em filas nas ruas, todas vestidas da mesma côr e guardadas por gente com cara de poucos amigos.
Das criancinhas comidas ao pequeno almoço não falou. Talvez para me poupar a mais inquietações, por saber-me pessoa impressionável..
Dizia eu que também não acreditei nesta descrição - como não acreditei na primeira - e passo a explicar porquê:
Um primo meu afastado, em quem sempre depositei a máxima confiança, tirou na ex-URSS, um curso superior. Com os mesmos direitos e deveres de qualquer outro estudante do país.
Quando voltou pareceu-me mais informado que eu, ensinando-me a pensar que as "coisas andam todas ligadas".
O que, admito, também sucederia se a sua licenciatura tivesse sido feita em Portugal.
Contou-me que os cuidados de saúde, os transportes e outros benefícios sociais, eram tendencialmente gratuítos para as pessoas.
Contou-me que, para além de estudar gratuitamente, ainda recebia uma mesada do Estado, como se não fosse estrangeiro.
Voltando ao meu amigo, confesso que se fosse hoje, e tivesse a certeza de que ele me saberia escutar (o que duvido), dir-lhe-ia o que esse familiar me transmitiu, acrescentando ainda, para rematar a conversa:
"É pá, mas isso parece-me contraditório, considerando o que me contou o Raúl, o meu primo.
Por um lado as pessoas têm índices de escolaridade superiores à média mundial. As Universidades, segundo parece, estão ao dispor da juventude que revele as aptidões necessárias. Estudando, fazem ginástica mental e, por acréscimo, aprendem também a relacionar as coisas. Por outro lado tu insinuas que lá prendem seres humanos, aniquilam-nos, ou enviam-nos para campos de concentração, como aqui no tempo de Salazar, no Tarrafal; ou como nos dias de hoje o fazem, democraticamente, em Guantanamo.
Isso faz-me lembrar, mal comparando, aqueles condenados à morte a quem os americanos cuidam esmeradamente durante anos até os empurrarem para a cadeira eléctrica ou letal injecção.
Não, não pode ser, deves ter visto mal!"
Confesso que resisti durante algum tempo, involuntariamente, à ideia de conhecer a inquestionável verdade sobre os falsos espelhos e as câmaras ocultas. E, também, sobre a verdade ou mentira do tipo de pequenos almoços dos "comunas" e das fardas das criancinhas de orfanato... já que a existência dos Gulags é um caso incontroverso.
Hoje, liguei a internet e zás. Puz-me a "surfar" para tentar conhecê-la. E deparei-me com as seguintes fontes:
- A)
http://www.seara guantanamo/pg.4shtml
-site "BBC brasil.com" (se não der, o que é mais certo, ir ao Google e escrever: bbc portuguese presidio)
Depois de conhecer os factos, fiquei triste comigo mesmo. Não é que me enganei, não obstante existirem tantas evidências em contrário?
A senhora brasileira, afinal, tem razão!
Tem todo o direito de se encontrar preocupada com a privacidade feminina no presente e no futuro.
É que o espelho falso (one way mirror) existe mesmo... e há muito tempo!
Mas parece-me, mesmo assim, redutora e ingénua a sua preocupação - agora que estou seguro da sua existência - porque está a "ver" no espelho, apenas duas utilidades :
Ver-se a si própria e ser vista ("em carne e osso") , do outro lado do espelho.
Confesso também, aqui e agora, a minha ingenuidade e ignorância aos que me leiem e que viram o "big brother" na tv e meditaram, antes de mim, nas "utilidades" que outros podem dar a esse espelho. E às câmaras ocultas também.
Digo mais: a imprensa ocidental, escrita e falada, tem sabido últimamente cultivar em mim a ideia de que tudo é normal: Desde espelhos falsos a câmaras ocultas ou não ocultas, passando por muros da vergonha (modernos, menos que dos antigos), cadeiras eléctricas, invasão de países, prisões arbitrárias, escutas ilegais (via net e telefone), etc.
Acredito que para além de mim (até há poucas horas) outros sofrerão da mesma boa fé em relação ao que vão lendo e ouvindo, como parece ser o caso da autora do texto inicial.
Se a casualidade levasse a publicidade que se segue ao conhecimento da senhora brasileira, e por distração achasse, como julgo, essa publicidade normal, passaria mesmo assim a ficar mais atenta cada vez que saísse à rua. Há quem esteja a vender no seu país, via net, a composição química para o fabrico do famigerado espelho:
"Apostila que ensina como fabricar e montar um dispositivo para se observar outras salas sem ser notado (olho-espião e um espelho especial em que, de um lado é espelho e do outro um vidro transparente (espelho-falso). Ótimo para aumentar a segurança. R$ (consulte-nos);
VR Postal do ???? Lda.
http://64.233.183.104/search?q=cache: AH1m4cjCLA4J:sha????"
( Morada e url truncados...que aqui não se faz publicidade gratuitamente).
Vem a talho de foice (que não de martelo) perguntar-me se aquela fórmula não teria sido descoberta por "comunas" antes da existência dos "gulags" com o expresso propósito de "chatear" os vindouros dissidentes.
Ou se não foi deliberadamente procurada para espiar operários em laboração no pós-perestroika, em homenagem às marxistas "mais-valias".
Ou se não foi realmente para ajudar a manterem-se no poder.
Recapitulando tudo o que escrevi, surge-me esta ideia peregrina:
Apesar da existência certa, do falso-espelho nos USA - preocupação da nossa amiga brasileira - não me parece que isso seja tão mau AGORA como antes (pós-kzarismo ou no tempo do nosso "manholas" de Santa Comba).
E porquê? -Porque levo em conta a legitimidade "democrática" de todos os países "livres", nomeadamente a do tio Sam, para utilizar o espelho falso, mesmo se aproveitado com outros meios mais sofisticados (que ainda desconheço), para levar a "paz" a qualquer país onde haja pobreza... e riqueza inexplorada ou em vias de exploração.
Como a moda do espelho falso está a virar moda, um dia destes, depois de mais umas "lavagenzitas" (em quartos de banho alheios), qualquer um de nós (mulher ou homem) mirando-se ao espelho, dirá ao que está à nossa frente, em tom gozão: - "Vai mas é dar uma volta ao bilhar grande!..."
Comentário final sem ironia:
O GRANDE IRMÂO, digo, o "falso-espelho", afinal está aí para ficar. Apresentando diversas faces.
Dissimuladamente antes, sem vergonha agora!
Subliminar e democraticamente nos vão fazendo a cabeça. Até quando?
...e a União Soviética, lá no Além, a torcer-se com dores de barriga...de tanto rir.
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Imagem acima: de Guantanano