OS CIGANOS
Não sei quem escreveu este elogio aos escritores. De qualquer modo sinto que, se escrevendo mal como escrevo, custa tanto, quanto não custará escrever como um escritor!
Aqui vai pespegada mais uma estória, com a advertência de que irá sendo modificada ao longo do tempo, intentando ver-me crescer, pelo menos, como pessoa.
OS CIGANOS
Ouvi dizer, há dias, que se encontravam acampados na cidade, há muitos meses, um jovem casal de ciganos e seus dois filhotes. Não disseram onde.
Que eram pessoas muito limpas, educadas e trabalhadoras, como se os ciganos tivessem que ser sujos, malcriados e malandros.
E que, por causa do Inverno rigoroso, tinham muita pena das crianças.
Que ele fazia - sempre ajudado pela criança, que não teria mais de 5 anos - cêstos sem cessar e que a companheira os tentava vender, de bébé ao colo, ao pé dos supermercados.
Essa conversa de café levou-me a alterar o meu "circuito de manutenção" habitual, mais por curiosidade que por outra coisa: Fiz passagem pelos "supermercados" da cidade.
Junto à porta de saída de um deles, olhei e vi a cigana - com o seu ar natural de dignidade, que a raça lhe empresta.
A quem passava junto de si, carregada de alimentos e outros artigos, dizia:
"Sinhor, sinhora, compre-me um cêsto p'ra dar leite ao meu bébé!"
As pessoas, apressadas, passavam ao lado do recém-nascido e da mãe...olhando para o lado.
Ninguém lhe comprara nada nesse dia, disse-me ela. Apenas tinha amealhado alguns "tostões" de pessoas que não lhe quizeram virar a cara.
Perguntei, no contexto da conversa, onde moravam. Que moravam numa velha carrinha , no Parque das Finanças, disse.
Relutante, mas ultrapassando o pudor - tanta era a minha curiosidade - atrevi-me a perguntar-lhe, ainda, onde tomavam banho e faziam as necessidades. Que tinham autorização do dono da bomba para utilizarem o quarto de banho - com chuveiro - desde que o deixassem limpo!
No meu passeio da tarde, deste Domingo, fui vizitá-los.
"Trago aqui umas roupas usadas para os senhores. Querem?"
O homem olhou para mim, algo distraído, enquanto pegava num vime que a filha lhe passava, depois da última laçada no cêsto.
A esposa, agarrada a uma vassoura, limpando o chão ao redor da carrinha, falou assim, para o seu homem:
"Este é o sinhor que onte te contei".
Pouco à-vontade, atirei: "E o bébé?"- Que estava dormindo, disse ele.
Quando, de volta, acartava o cêsto que comprei, fiquei assustado ao sentir-me puxado pelas calças.
Era a ciganita, que - de óculos de criança, escuros, na testa - com seu ar reguila, me impôs:
"Senhor, dê-me uma moeda, que é pr'ó leite do meu bébé."
Marinha Grande, 07.02.2006
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PS:, digo, PC e PS:
Para quando - ao menos - a disponibilização de balneários públicos, na cidade, para fazer face à higiéne das pessoas menos favorecidas?
4 Comments:
que tal mandar este texto para o blog marinha que futuro?
apoiado
Obrigado gana!
Quero-lhe dizer que pode tomar a iniciativa, se achar que vale a pena.
Está autorizado.
:) __ |_____________O_______________ |
Obrigado Carlitos!
está uma mijada completa!!!!!!!
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