«A informação é uma guerra, uma guerra entre modelos sociais. Entre os defensores de um mundo desigual, injusto, governado por depravados e autênticos terroristas que impõem a sangue e fogo um modelo económico que condena à morte milhares de pessoas em todo o mundo, e aqueles que decidem estar ao serviço dos grupos, movimentos, intelectuais e outros lutadores, que todos os dias arriscam a vida a defender outro modelo de mundo possível.»
Pascual Serrano - José Daniel Fierro

REFORMAS E BAIXAS MÉDICAS EM PORTUGAL - escândalos!

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COMER E CALAR! - até quando?


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sexta-feira, dezembro 28, 2007

A ALEGRIA DE VIVER - Krishnamurti

"Já alguma vez cogitastes no porquê de muitas pessoas, ao se tornarem mais velhas, parecem perder toda a alegria de viver? No momento, a maioria de vós, que sois jovens, é relativamente feliz; tendes vossos pequenos problemas, vossas preocupações sobre os exames, mas, apesar dessas perturbações, há, em vossa vida, uma verdade? Há uma espontânea e natural aceitação da vida, uma visão das coisas despreocupada e feliz.

Mas, por que razão, ao nos tornarmos mais velhos, parecemos perder aquele ditoso pressentimento de algo transcendental, algo de mais significativo? Por que tantos de nós, ao alcançarmos a chamada maturidade, nos tornamos embotados, insensíveis à alegria, à beleza, ao céu sereno e às maravilhas da terra?

Quando urna pessoa faz a si própria esta pergunta, muitas explicações acodem-lhe ao espírito. Ternos muito interesse em nós mesmos - esta é unia delas. Lutamos para nos tornarmos alguém, para alcançarmos e conservarmos uma certa posição; temos filhos e outras responsabilidades, e ternos de ganhar dinheiro. Todas essas coisas que se agitam em nosso interior não tardam a deprimir-nos, e perdemos assim a alegria de viver. Vede os rostos dos mais velhos, de vosso círculo de conhecimentos, tristes que são, em maioria, e gastos, adoentados, reservados, alheados, não raro neuróticos, sem um sorriso. Não perguntais a vós mesmos por que são assim? E mesmo quando indagamos o porquê disso, a maioria de nós parece satisfazer-se com meras explicações.

Ontem de tarde vi um barco que subia o rio, de velas pandas, impelido pelo vento oeste. Era um barco grande e transportava pesada carga de lenha destinada à cidade. O sol se punha e a embarcação, desenhada contra o céu, mostrava singular beleza. O barqueiro só tinha de guiá-la; nenhum esforço era necessário, pois o vento fazia todo o trabalho. Analogamente, se cada um de nós compreendesse o problema da luta e do conflito, penso que poderíamos viver sem esforço, felizes, de rosto sorridente.

Para mim, é o esforço que nos destrói, esse lutar em que despendemos quase todos os momentos de nossa vida, Se observardes, ao redor de vós, as pessoas mais velhas, podereis ver que para quase todos a vida é uma série de batalhas consigo mesmos, com suas mulheres ou maridos, com seu próximo, com a sociedade; e essa luta incessante dissipa energia. O homem que vive alegre, verdadeiramente feliz, está livre de todo esforço. Viver sem esforço não significa tornar-se estagnado, embotado, estúpido; ao contrário, só os homens sensatos, altamente inteligentes, estão verdadeiramente livres do esforço e da luta.

Mas, quando ouvimos falar em viver sem esforço, queremos viver assim, desejamos alcançar um estado em que não haja luta nem conflito; tornamo-lo, pois, esse estado, nosso alvo, nosso ideal, e por ele lutamos; e desde esse momento perdemos a alegria de viver. Estamos de novo empenhados em esforço, luta. O objeto da luta varia, mas toda luta é essencialmente a mesma. Um luta pela promoção de reformas sociais, ou para achar Deus, ou para criar melhores relações no lar ou com o próximo; outro senta-se à margem do Ganges ou se prostra devotamente aos pés de um guru - etc. etc. Tudo isso representa esforço, luta. O importante, por conseguinte, não é o objeto da luta, porém, sim, compreender a própria luta.

Ora, é possível a mente não apenas perceber ocasionalmente que não está a lutar, porém estar a todas as horas completamente livre de esforço, de modo que possa descobrir um estado de alegria em que não haja nenhuma idéia de superioridade e inferioridade?

O caso é que a mente se sente inferior e por esta razão luta para "vir a ser" alguma coisa, ou conciliar seus vários desejos contraditórios. Mas, não estejamos a dar explicações sobre por que a mente tanto luta. Todo homem que pensa sabe por que há luta, interior e exteriormente. Nossa inveja, avidez, ambição, nosso espírito de competição, que nos impele à mais impiedosa eficiência - são obviamente estes os fatores que nos fazem lutar, no mundo atual ou no mundo do futuro. Por tanto, não temos necessidade de estudar livros de psicologia para sabermos por que lutamos; e o que certamente, tem importância é que descubramos se a mente pode ficar totalmente livre de luta.

Afinal de contas, quando lutamos, o conflito é entre o que somos e o que deveríamos ou desejamos ser. Pois bem; sem se procurarem explicações, pode-se compreender todo esse processo de luta, de modo que ele termine? Como aquele barco levado pelo vento, pode a mente existir sem luta? A questão é esta, sem dúvida, é não como alcançar um estado em que não haja luta. O próprio esforço para alcançar tal estado é, em si, um processo de luta e, por conseguinte, aquele estado nunca pode ser alcançado. Mas, se observardes, momento por momento, como a mente se deixa colher nesse torvelinho de incessante luta - se observardes simplesmente o fato, sem tentar alterá-lo, sem impor à mente um certo estado que chamais "de paz" - vereis que, espontaneamente, a mente deixará de lutar; e nesse estado ela é capaz de aprender infinitamente. Aprender já não é, então, mero processo de acumular conhecimentos, porém de descobrimento de extraordinárias riquezas existentes além do alcance da mente; e para a mente que faz tal descobrimento, há grande alegria.

Observai a vós mesmo, para verdes como lutais da manhã à noite, e como vossa energia se dissipa nessa luta. Se tratardes apenas de explicar por que lutais, ficareis perdido numa floresta de explicações e a luta prosseguirá; mas se, ao contrário, observardes vossa mente, com serenidade e sem dardes explicações; se deixardes simplesmente que vossa mente esteja cônscia de sua própria luta, vereis que muito depressa surgirá um estado no qual nenhuma luta haverá, um estado de extraordinária vigilância. Nessa vigilância, não há idéia de "superior" e "inferior", não há homem importante nem homem insignificante, não há guru. Todos esses absurdos desapareceram, por que a mente está inteiramente desperta; e a mente de todo desperta está cheia de alegria...

...Afinal de contas, que é "contentamento" e o que é "descontentamento"? "Descontentamento" é a luta pela consecução de mais, e o "contentamento" a cessação dessa luta; mas, não se chega ao contentamento, se se não compreende todo o "processo" relativo ao mais, e por que razão a mente o exige.

Se sois mal sucedido num exame, por exemplo, tereis de repeti-lo, não é verdade? Os exames, em qualquer circunstância, são uma coisa sumamente deplorável, porquanto nada representam de significativo, já que não revelaria o verdadeiro valor de vossa inteligência. Passar num exame é, em grande parte, um "golpe" de memória ou, também, de sorte; mas, vós lutais para passardes em vossos exames e, quando sois mal sucedidos, perseverais nessa luta. O mesmo "processo" se verifica diariamente, na vida da maioria de nós. Estamos lutando por alguma coisa e nunca nos detivemos para investigar se essa coisa é digna de lutarmos por ela. Nunca perguntamos a nós mesmos se ela merece nossos esforços e, portanto, ainda não descobrimos que não os merece e que devemos contrariar a opinião de nossos pais, da sociedade, de todos os mestres e gurus. É só quando temos compreendido inteiramente o significado do mais, que deixamos de pensar em termos de fracasso e de êxito.

Temos sempre medo de falhar, de cometer erros, não só nos exames, mas também na vida. Cometer um erro é coisa terrível, porque seremos criticados, censurados, por causa dele. Mas, afinal, por que não se devem cometer erros? Toda gente, neste mundo, não vive cometendo erros? E o mundo sairia da horrível confusão em que se encontra, se vós e eu nunca cometêssemos um erro? Se tendes medo de cometer erros, nunca aprendereis coisa alguma. Os mais velhos estão continuamente cometendo erros, mas não querem que vós os cometais e, com isso vos sufocam toda a iniciativa. Por quê? Porque temem que, pelo observar e investigar todas as coisas, pelo experimentar e errar, acabeis descobrindo algo por vós mesmo e trateis de emancipar-vos da autoridade de vossos pais, da sociedade, da tradição. É por essa razão que vos acenam com o ideal do êxito; e o êxito, como deveis ter notado, sempre se traduz em termos de respeitabilidade. O próprio santo, em seus progressos para a chamada perfeição espiritual, tem de tornar-se respeitável, porque, do contrário, não encontrará "aceitação", não terá seguidores.

Estamos, pois, sempre pensando em termos de êxito, em termos de mais; e o mais é encarecido pela sociedade respeitável. Por outras palavras, a sociedade estabeleceu, com todo o esmero, um certo padrão, pelo qual mede o vosso sucesso ou o vosso insucesso. Mas, se amais uma coisa e a fazeis com todo o vosso ser, então já não vos importa o êxito nem o fracasso. Nenhum homem inteligente se importa com isso. Mas, infelizmente, são raros os homens inteligentes, e ninguém vos aponta essas coisas. Tudo o que importa ao homem inteligente é perceber os fatos e compreender o problema - e isso não significa pensar em termos de êxito ou de fracasso. Só quando não amamos o que fazemos, pensamos nesses termos."

Krishnamurti

14 Comments:

At sexta-feira, dezembro 28, 2007 2:41:00 da tarde, Blogger Miguel said...

Muito Profundo ...!

A Continuação de Boas Festas e os votos de um excelente 2008 ...!

Que concretizes todos os teus objectivos e se possivel todos os teus sonhos ...!

Um abraço da M&M & Cª!

 
At sexta-feira, dezembro 28, 2007 11:46:00 da tarde, Blogger José Lopes said...

A vida é uma luta constante, isso é verdade. Uns lutam pelo sucesso, outros pela sobrevivência, e há os que lutam pela felicidade. Quando a felicidade não se baseia apenas nos bens materiais, o vil metal e o poder que dele emana, a luta vale a pena e compensadora. Há quem sorria, o que neste mundo de hoje é cada vez mais difícil, para nosso azar.
Este texto é uma optima reflexão, sobre á nossa 'luta constante'.
Cumps

 
At sábado, dezembro 29, 2007 11:34:00 da manhã, Blogger ALeite said...

Passei por aki e gostei do que vi e li. Um grande 2008. E um convite: Passa pelo meu condomínio.
Inté.

 
At sábado, dezembro 29, 2007 4:03:00 da tarde, Blogger Kalinka said...

ZÉ LÉRIAS

2007 está de saída. Não deixemos que com ele termine a magia, a solidariedade, a amizade que nos aproxima.
Agarremo-las para o Novo Ano 2008.
Que cada dia seja repleto de luzes, esperança, renascimento, renovação, amor, paz e principalmente muita saúde.

Beijos de luz e muita força.
FELIZ 2008!!!

 
At sábado, dezembro 29, 2007 6:14:00 da tarde, Blogger peciscas said...

A vida é uma constante aventura e nem sempre sabemos como torná-la aliciante.

Que 2008 te traga tudo o que de melhor desejares.
Um abraço!

 
At domingo, dezembro 30, 2007 11:05:00 da manhã, Blogger A Professorinha said...

Eu penso que muitas vezes perdemos a alegria de viver porque fixamos os nossos objectivos demasiado baixo...

Feliz Ano Novo

Fica bem

 
At domingo, dezembro 30, 2007 1:44:00 da tarde, Blogger Jorge P. Guedes said...

Mas que leituras profundas, Zé!
A meditação, o auto-conhecimento, o amor ao que se faz, estas práticas e princípios filosóficos deste místico e pensador indiano t~em a grande vantagem de nos fazer parar e olhe para dentro de nós mesmos.
A destruição do homem pelo homem vem-se acentuando nos últimos decénios e é consigo próprio que o mesmo Homem tem de se reencontrar.
A nossa felicidade estará sempre mais no ser do que no ter.
Muito interessante este texto, que reclama uma leitura serena e a interiorização de conceitos básicos de vida tantas vezes esquecidos no dia-a-dia da nossa acelerada sobrevivência.

Um abraço e um grande 2008 !
Jorge G.

 
At domingo, dezembro 30, 2007 8:33:00 da tarde, Blogger Nadinha said...

Muito bem. Também já descobri Krishnamurti, mas confesso que só este ano.
Feliz 2008!

 
At domingo, dezembro 30, 2007 10:31:00 da tarde, Blogger ANNA-LYS said...

I am trying to grasp the content of this post. I have never before heard about Kristnamurti (a shame), but I am always interested in others interest :-)

In the translation into English it is made a point about "fight". I wonder if it should be the word "conflict" instead? As Sigmund Freud used the concept of conflict, as an inner process of learning and development.

Meaning ... to learn something new You have an inner conflict between former knowledge, and letting it go away to make space for the new understanding.

This way to look upon "battles, fights, conflicts" explains a lot of why people have such a problem with change. To change You have to learn, to learn you have to move to the next stage, (level, dimension) ... and then You must let You, the inner conflict is huge. Due to letting it go ... is to lose Yourself for a while, before finding the new You. A form of minor identity-crisis every time You have to admit that Your former understanding was wrong.

Other schools of developmental and dynamical psychology are putting forward the concept of cognitive dissonance ... then groups of people (mostly politicans) keep the old knowledge very hard (even if many inside the group has changed) ... then the process of belonging gets stronger than losing up some old knots and dots ....


LOL

Sorry ...

Concrete question;

What is the right translation in Your post when it comes to the web-translators concept "fight"?


HAPPY NEW YEAR!!!

 
At segunda-feira, dezembro 31, 2007 3:32:00 da tarde, Blogger ++!++ said...

"Fight"

Kiss

 
At segunda-feira, dezembro 31, 2007 3:33:00 da tarde, Blogger ++!++ said...

or, "hard work" instead....

 
At quarta-feira, janeiro 02, 2008 7:30:00 da tarde, Blogger ANNA-LYS said...

Thank You then I guess the correct translation should be "Struggle"?

 
At quarta-feira, janeiro 02, 2008 7:31:00 da tarde, Blogger ANNA-LYS said...

LOL :-)

Now I will try to read it again after dinner!!! :-)

 
At sábado, janeiro 05, 2008 3:11:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Se todos os humanos se libertasem de todas as amarras que lhes colocaram logo que saíram da barriga da mãe,iriam certamente direitinhos ao encontro de si.Na verdade as albardas são toneladas que nos poêm de cócaras ,não nos deixando ser nós próprios.O mundo muda quando todos começarem a mudarem-se si própriamente
Temos que ter força de nos convencer a fazêr-lo.Conhecer Krishnamurti,ajuda-nos.obrigada Gahnah.

 

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