«A informação é uma guerra, uma guerra entre modelos sociais. Entre os defensores de um mundo desigual, injusto, governado por depravados e autênticos terroristas que impõem a sangue e fogo um modelo económico que condena à morte milhares de pessoas em todo o mundo, e aqueles que decidem estar ao serviço dos grupos, movimentos, intelectuais e outros lutadores, que todos os dias arriscam a vida a defender outro modelo de mundo possível.»
Pascual Serrano - José Daniel Fierro

REFORMAS E BAIXAS MÉDICAS EM PORTUGAL - escândalos!

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COMER E CALAR! - até quando?


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sexta-feira, novembro 18, 2005

À volta de Kandinsky

Peço desculpa pela transcrição deste texto (em Português do Brasil) mas o seu conteúdo falou-me mais alto...

" A Arte e Espiritualidade - Malu Aguiar - (março 2001)
A arte e a espiritualidade estão intrinsecamente ligadas. O nível de evolução humana de um povo pode ser medido através de sua arte, que é um retrato de sua época e de seus homens e um reflexo imediato da religião, política, economia e cultura de um país. Nas épocas de grande desenvolvimento da alma humana, a arte torna-se mais viva e mais rica. Nas épocas em que as doutrinas materialistas e o ceticismo prevalecem, produz-se uma arte degenerada - que visa somente o lucro ou o sucesso individual de um artista ou de um grupo.A verdadeira arte é aquela que prescinde de uma explicação teórica, de um discurso intelectual, de shows pirotécnicos e de uma mídia que a divulgue. A arte não existe para ser entendida e sim sentida. Explicar a composição química de um alimento não o fará experimentar seu gosto e certamente não aplacará sua fome. A verdadeira arte é o pão que alimenta a alma faminta - imprescindível ao avanço espiritual da humanidade. Dentro deste conceito, o artista passa a ser um meio pelo qual o Espírito se manifesta, através dos caminhos próprios da arte.Uma prova de que a arte reflete o momento histórico de um povo é a produção artística contemporânea, que reflete o caos e a separação que existe entre os diversos setores da sociedade moderna, entre a vida material e o espírito humano. Esta situação está muita bem representada pelo abismo existente entre o artista/obra e o público. Esta dicotomia é absurda, visto que a existência de um somente se justifica pela presença do outro: não existe artista sem público.Nas civilizações antigas não havia separação entre a arte e a vida comum: elas se relacionavam no cotidiano. A arte fazia parte da vida da sociedade e não ficava reservada a um espaço restrito. Esta cisão ocorreu com o advento da economia moderna, que separa os setores da sociedade em compartimentos, de modo que estes se tornem mais funcionais.Os homens de espírito de hoje afirmam que este divisionismo vem deteriorando e terá de ser substituído por um conceito mais universalista e unificador em todos os setores da sociedade. No futuro, a medicina, o meio ambiente, a política, a economia, a educação e a cultura, etc. terão que se relacionar de forma mais coerente em beneficio da sociedade em geral. Na minha opinião, isso vem sendo engendrado gradativamente, mesmo que por pequenos grupos, que considero os focos das grandes mudanças que advirão no próximo milênio.Os artistas deverão refletir estas mudanças. Mas como poderão faze-lo se eles mesmos estão cindidos? A arte atual e os artistas estão sem direção. Ambos nunca estiveram tão distantes deste ideal de universalidade, de unificação. Atualmente, as obras de arte "ou são ignoradas ou tornam-se mundialmente famosas, como objetos de museu, já mortos antes mesmo de nascer" , como afirmou o sociólogo alemão Robert Kurz em um ensaio para a Folha de São Paulo (Caderno Mais), onde compara o artista atual ao rei Midas, que morreu de fome porque todo alimento que tocava virava ouro ou então a Tântalo, de quem se esquivavam a água e os alimentos.Os homens da arte, aqueles que deveriam representar o artista, pouco têm contribuído para criar uma ponte entre este e o seu público. Ao contrário disso, erguem um muro intransponível entre eles, com seu discurso rebuscado e enigmático. O público sente-se logrado diante de uma arte que não entende, de um artista que não conhece e volta-lhes as costas, com desprezo. A ponte ruiu. Neste ponto se estabelece uma verdadeira crise da arte, onde ela perde sua característica de reflexão estética da sociedade e da relação do homem com o mundo que habita e ganha um frio caráter de "arte pela arte", um fim em si mesmo ou então um produto (muito caro) a ser etiquetado e vendido em leilões e galerias.Esta crise, porém, não é nova. No início do século, o artista russo Kandinsky - autor da Primeira Aquarela Abstrata (1910) - já afirmava que a "a arte está em busca de uma resposta - especializada, ela só ficará inteligível para os próprios artistas (...) que, em geral, têm muito pouco a dizer.".Kandinsky foi um dos principais artistas que discutiram a questão filosófica da arte e seu conteúdo espiritual, tendo sido um dos mais influentes artistas do século XX. Ele, que desde criança já possuía uma capacidade sinestésica evoluída, remetia, em sua obra, à música das esferas e aos sons puros e manifestava, através da cor, uma visão mais espiritualizada da arte. Com seus livros O Almanaque do Cavaleiro Azul e Do Espiritual na Arte, buscava "despertar a faculdade de experiência espiritual nas coisas materiais e abstratas", que julgava "indispensável no futuro e que permitirá experiências infinitas".Kandinsky afirmava, ainda, que "é belo o que provém de uma necessidade interior da alma; é belo o que é belo interiormente". Essa beleza a que se referia manifesta-se precisamente a partir do encontro do artista com sua verdade interior, da manifestação de sua necessidade interior. Nesse sentido, somente a obra criada a partir de um profundo contato do artista consigo mesmo e que manifesta sua singular relação com o universo a sua volta, tem um valor intrínseco. O contrário disso possui valor estritamente material.Portanto, a possível resposta para o dilema que as artes plásticas enfrentam atualmente está no próprio artista. É ele quem tem que mudar esta situação, reconhecendo, em primeira instância, a sua importante e difícil tarefa, sem abafar seu talento na imitação de épocas passadas, vinculando-se a esta ou aquela escola ou buscando tendências puramente materialistas.Como afirmou Kandinsky, "o artista deve trabalhar sobre si mesmo, aprofundar-se, cultivar sua alma, enriquecê-la, a fim de que seu talento tenha algo a cobrir. Deve ser cego em face da forma, como também surdo aos ensinamentos e desejos do seu tempo. Seus olhos devem estar abertos para sua própria vida interior, seus ouvidos sempre atentos à voz da Necessidade Interior.".Somente assim criaremos, a exemplo de Kandinsky, a verdadeira arte espiritual, a arte do futuro.
Malu Aguiar - artista plástica e diretora do Espaço Artístico Kandinsky "

5 Comments:

At terça-feira, novembro 22, 2005 9:50:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Gostei de ler o seu post, com a assinatura de autora brasileira, por ser mais um ponto de vista, para falar da arte em geral.

Há muitos, diversos, credenciados e criteriosos críticos de arte que vêm a arte segundo seus prismas estéticos colhidos em escolas diferentes. Por isso a maioria não subscreveria, concerteza, aquele texto...como não subscreveriam quase nenhum dos que lhes fossem alheios.

Mas será que todos - incluindo a autora citada - não terão razão?

Será que não é na soma de parte dessas estéticas que está a VERDADE?

Simples especulação minha (obviamente) e que serve para lhe mostrar que gosto quase sempre de seus posts.

Post mais textos seus.

 
At domingo, novembro 27, 2005 7:29:00 da manhã, Blogger carlos said...

Parece-me que quem escreveu este texto não percebeu nada do que o Kandisky disse:
"Seus olhos devem estar abertos para sua própria vida interior, seus ouvidos sempre atentos à voz da Necessidade Interior."
A questão nasce e morre aqui.
Não há consciências sociais que valham, não existem valores.
Disse várias vezes e repito: não interessa o que consegues fazer, interessa o que não consegues deixar de fazer.
Nem sequer concebo o bem como uma verdade una. Se não existisse mal em mim eu não percebia tão bem o bem que o bem me faz. E isto são palavras.
E eu não sou palavras, nem tentativas mais ou menos controladas de ser bom. Isso não existe.
Eu sou bom quando me apetece e sou um mau mau por falta de vocação mas sem desprezo.
Nunca me passou pela cabeça menosprezar emoções. Eu sou. Isto e aquilo.
E o mais importante é a capacidade de perceber o desconhecido do outro, e por isso mesmo o julgamento não cabe a ninguém.
A culpa mata. E é-me imposta.
E isso está mal.

"não existe artista sem público." diz quem escreve.
não existe público sem arte.
não existe masturbação sem mim.
e cada vez que chego mais perto fica tudo enublado e comodamente incerto.
reforço-me as vezes que forem precisas e não me apetece análises.
pof.

 
At domingo, novembro 27, 2005 8:33:00 da tarde, Blogger ++!++ said...

Agora fiquei confuso.
Sentes necessidade do "mal" para perceberes o "bem" e concluis que o percebes?

"...Ouve a tua necessidade interior"

Será que tens alguma ?

 
At segunda-feira, novembro 28, 2005 6:58:00 da manhã, Blogger carlos said...

A minha necessidade interior deve estar a ver se ganha voz. Deve ser um processo lento, pelo menos para mim.
Não que não a ouça, porque ouço mas ou ela é cinzenta e cheia de antagonismos ou há ruído entre ela e eu. Mas no entanto ela sou eu ou o que eu hei-de ser.
É muito confuso isto. Tal como eu.

 
At quarta-feira, novembro 30, 2005 1:54:00 da manhã, Blogger ++!++ said...

..parece-me já estás a ouvir qualquer coisa:
*para os ruídos :liga um noise-gate
*se a voz é "cinzenta": liga um equalizador;
*para os "antagonismos": que tal um limitador ?
Depois mistura tudo e põe um pouco de harmonizer na masterização final.
Não exageres nos efeitos.
Ah...
Ouve sózinho e em silêncio.

ssshhhhhh

:O)

 

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